"Tolerar a injustiça é relativamente aceitável, condenável é a intolerância da justiça". Leandro Francisco

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Equipamento usado no combate ao crime reconhece rostos na multidão

A reportagem da coluna 'Você não sabia, mas já existe' mostrou tecnologias avançadas usadas em operações policiais, como a invasão do Alemão.

Hoje, já existe tecnologia para superar o maior desafio em uma ação policial: preservar vidas. A coluna ‘Você não sabia, mas já existe’ foi testar todos esses equipamentos.
Um deles mostra, em tempo real, o que o helicóptero da polícia está vendo. Assim, consegue evitar balas perdidas e salva vidas. Ele foi utilizado na implantação das UPPs, no Rio de Janeiro. Há ainda outros equipamentos importantes.
“Antigamente, era o tráfico que tinha. Depois veio a milícia. Agora está mil maravilhas com a UPP aqui, porque teve a melhoria para os nossos filhos. Não tem mais tiroteio como antigamente”, relata uma mulher.
Um dos maiores problemas que o Brasil enfrenta na área da segurança pública é o domínio de milícias em diversas favelas do Rio, especialmente na Zona Oeste. São policiais, ex-policiais ou bombeiros que controlam, dão ordens e administram uma série de serviços como, por exemplo, a distribuição de botijões de gás. Mas, em 2009, a polícia obteve uma importante vitória desmontando uma milícia importante e grande que controlava toda a área do Jardim Batan. Uma vitória obtida graças à tecnologia.
O i2 é um programa de computador que está revolucionando a investigação policial no mundo inteiro. Em um primeiro toque na tela, já é possível perceber uma teia, um emaranhado de linhas que vão se formando, a princípio sem nenhum sentido - mas o comentarista de segurança pública Rodrigo Pimentel diz que tem informações importantes para a polícia.
“O crime organizado do século 21 apresenta uma organização de atividades econômicas tão distintas que provocam milhões, milhares de informações. Então a ferramenta não facilita, ela possibilita a investigação de máfias e de crime organizado”, explica Pimentel.
Esse esquema, no caso, se refere à investigação da milícia na Zona Oeste do Rio de Janeiro. Glauco Guimarães, representante da empresa que trouxe o software para o Brasil, mostra que é possível ver no aparelho números telefônicos.
“Nós temos aí oito mil chamadas telefônicas que são importadas e analisadas. Em torno de cinco segundos nós conseguiríamos fazer uma análise bastante direta de quem são os envolvidos realmente no crime”, diz Glauco Guimarães.
“Agentes da polícia iriam gastar de cinco a seis anos para poder analisar oito mil chamadas telefônicas”, compara Pimentel. “Essa ferramenta estava presente em todas as grandes investigações do Brasil nos últimos cinco anos.”
Em um primeiro momento, achamos que o importante em uma ligação telefônica é o conteúdo, mas no aparelho percebemos que é importante saber quem liga para quem. Assim, conseguimos definir quem são os chefes dessa organização.
“Às vezes um chefe da quadrilha faz duas, três ou quatro ligações, dá comandos para ações diversificadas. Então, uma análise normal em um telefone que tivesse ligado quatro vezes nunca seria pego, nunca chamaria atenção”, aponta Guimarães.
Há outro esquema que mostra outra investigação. Essa muito maior. O tamanho da teia de informações é grande. Refere-se à al-Qaeda, o grupo terrorista responsável pelos ataques de 11 de setembro nos Estados Unidos. O que faltou para prevenir o ataque de 11 de setembro foi exatamente que essas informações estivessem disponíveis para todos os investigadores.
“O 11 de setembro só aconteceu justamente porque eles trabalhavam em ilhas de informações e não trocavam informações entre as polícias”, avalia Guimarães.
Em cima de todas essas informações, descobrimos que o programa nos diz que o líder é o Osama Bin Laden. Em outro quadro, uma relação das pessoas mais importantes.
“Alguns delegados estão encaminhando os seus relatórios ao Ministério Público e também conseguindo a condenação em função justamente desses gráficos. Quando o juiz consegue enxergar as conexões, ele consegue se convencer da materialidade do crime”, diz Rodrigo Pimentel.
O grupo foi identificado, o bandido foi identificado, mas como encontrar um suspeito no meio de uma multidão? Seja na rua, em um aeroporto tentando fugir do país ou mesmo em uma estação de trem, como a Central do Brasil. Aí entra em cena um equipamento que permite a identificação de rostos a partir de um banco de dados.
O teste é bem simples, até porque o equipamento é bastante simples. Cabe em um cantinho da Central do Brasil, sem atrapalhar o vai e vem das pessoas. É composto basicamente por uma câmera, do tamanho de uma câmera de computador que tanta gente tem em casa, e um laptop - um computador portátil. Com isso instalado, estamos prontos para testar. Será que a máquina realmente reconhece um rosto no meio de uma multidão?
O repórter Márcio Gomes fez o teste sem óculos, de propósito. Não estava enxergando nada, mas foi fazer o teste com óculos e também de outras maneiras para surpreender o equipamento ou pelo menos tentar surpreender o equipamento, e ver se ele realmente funciona e como ele funciona.
Ele ficou esperando a hora de maior movimento para descer junto com a multidão e ver se a máquina, que estava no começo da rampa, realmente funciona. Ele tentou ficar bem atrás de um rapaz de camisa estampada, na velocidade dele, já que ele era mais alto. Poderia ser que ele servisse de bom teste. A máquina pegou. Pegou duas vezes.
Depois, o repórter desceu a rampa e tentou ficar um pouco atrás de um rapaz de blusa preta, que era mais alto e que poderia esconder um pouco o rosto de Márcio Gomes, que experimentou usar um boné para disfarçar um pouco e ver se conseguia driblar o equipamento. Não apenas o boné, mas também uma coisa que poderia atrapalhar a identificação da face, que é um telefone celular. Ele desceu a rampa no meio da multidão de boné e falando ao telefone, simulando uma conversa, especialmente porque o telefone cobre parte do rosto. O teste deu certo. A máquina pegou novamente.

Márcio Gomes usou então uma barba e bigode postiços, além do boné e celular, para ver se a máquina também faria o reconhecimento no meio da multidão. O que não se faz para testar essa máquina...
Reconheceu. Apareceu a fotinho.
O repórter usou barba, óculos e boné. Nada disso estava na foto do cadastro, na foto original. Que pontos o computador identificou, então?
“Primeiro, a distância entre os olhos, que é única. A partir da distância entre os olhos, pegou-se os outros pontos matemáticos da face, tipo a sobrancelha, até o queixo e mandíbula. Só que, como essa parte está diferente, o índice de similaridade diminuiu. Mas a conta, no geral, está apontando que deve ser você”, explica o operador do equipamento.
Qual é a capacidade de reconhecimento da máquina?
“Nossa tecnologia hoje é capaz de fazer 2,5 milhões de procuras por segundo em uma única máquina”, conclui o operador do equipamento.
A tendência é que equipamentos assim se juntem às câmeras que já existem nas ruas e nos vigiam em todos os cantos.
“Não me sinto incomodada, acho lindo!”, brinca uma mulher.
O equipamento da polícia aumenta a responsabilidade e o trabalho dos policiais militares na hora de abordar e prender os suspeitos, já que a câmera também pode errar.

A ferramenta que gera imagens ao vivo do helicóptero foi usada na invasão ao Complexo do Alemão, em novembro de 2010. Nas imagens transmitidas na época, é possível ouvir o piloto gritando: “Eles estão atirando.”

“Foi fundamental, porque forneceu informações para se operar com segurança, diminuindo o risco de acidentes por causa de tiros, tanto em moradores quanto em policiais. A gente estava acompanhando online tudo o que acontecia, o que nos deu tranquilidade para operar”, lembra o comandante Adonis Oliveira, piloto da Polícia Civil do Rio de Janeiro.
“O emprego desse equipamento é diferenciado, serve para salvar vidas e profissionalizar. Essas imagens geradas pelas aeronave são transmitidas para a Secretaria de Segurança e para a chefia da polícia. Também funciona como fiscalização da atividade policial”, explica Fernando Veloso, sub-chefe da Polícia Civil do Rio de Janeiro.
Ele acrescenta: “Na visita do Obama ao Brasil, monitoramos os locais por onde ele passaria. Na tragédia da Região Serrana, a aeronave foi amplamente utilizada. É um diferencial que a Secretaria de Segurança colocou à disposição.”
“A prefeitura também recebe essas imagens. Elas são geradas ao vivo e podem ser usadas para ações de transito”, conclui Rodrigo Pimentel. “Além da tecnologia, é importante a sensibilidade do policial e trazer a sociedade para dentro da proteção à testemunha. Alguns crimes só podem ser combatidos com testemunhas. Tráfico e milícia, só se combate usando proteção à testemunha. O objetivo não é o luxo, e sim a dignidade. Felizmente, não temos relatos de testemunhas que tenham sofrido qualquer tipo de atentado ou sido assassinadas. O que ocorre é que as condenações demoram até dez anos.”

Fonte: G1

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